O vinho escorre por entre seus
seios: fio comprido, cor de âmbar, forma poça entre os pelos. A boca do homem,
beira a vulva à espera – língua comprida e quente faz cócegas em suas entranhas.
Seus olhos perdem-se através da janela. Ausentes do ato, presentes na memória.
No passado o vinho foi denso. Rubro, escorreu pela glande lambuzada dos seus
desejos. As mãos aparando golpes no ar em krav-magá imaginário. A sessão de
intensas estocadas fazendo coro nas pupilas dilatadas. E o gozo a folgar os nós
do estômago. Hoje o vinho chega aos lábios de outro. Forasteiro dela, guardião
provisório de seus mais baixos instintos. A pressão na veia lhe ressoa oca nos
ouvidos. As carnes abertas tremem como dançarinas bêbadas, prendem a cabeça dele contra o volante. O estacionamento do supermercado não fecha. Outros machos
passeiam entre fêmeas reluzentes e de desejos efêmeros. Os lábios se juntam nas
gotas translúcidas, prendem a dor fina por sobre a pele. O teto solar aumenta
as estrelas pálidas. Ontem ele era nada, agora cavalo indomado a arrancar relva
molhada. Vê sua nuca e orelhas. Sem ver a boca, deságua-se vinho num orgasmo
bêbado. E fica livre. Envia-lhe seu olhar desconhecido e a depressão
atmosférica. Vai chover. O supermercado vai fechar. Precisa buscar bifes e
batatas. Tranca o carro. Chuta a mediocridade antes que o vômito a tome.
quarta-feira, 5 de junho de 2019
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